sábado, julho 31, 2010

Síndrome de Atlas


Queria ser como a maioria das pessoas comuns é, de achar tudo normal, de não me indignar com absolutamente nada, de acreditar simplesmente que a vidinha medíocre que insistem em me empurrar goela abaixo é a única opção possível. Quisera eu o poder de extinguir sonhos, erradicar desejos, calar emoções. Quisera eu não ter consciência, ser completamente cega e alienada, aquém de tudo o que acontece no universo ao meu redor. Quisera eu permanecer incólume às barbáries e injustiças de nossa época. Se tivesse nascido pedra seria bem mais fácil: era só ficar lá, inerte, passiva, ao sabor dos séculos. Mas nasci oceano. Desses que abarca tudo para si, que absorve, envolve e serve de morada.
Doença auto-imune em estágio avançado.

"Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes iguais às deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho".

(Edgar Allan Poe)

quarta-feira, julho 14, 2010

Da Feiúra


A única feiúra imperdoável é a falta de caráter.

O Amor em Tempos de Cólera



Ontem seguindo o link postado por Jean Wyllys no twitter, no qual havia uma resenha sua sobre o livro Carta entre amigos, de autoria de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, fiquei um tanto indignada(acredite, esse tipo de postura ainda me indigna!)com um dos comentários, que afirmava: "mas dizer que não são cartas trocadas por dois homossexuais... pelo amor de Deus...tá na cara que são... o que não seria nenhum problema". Quando li isso senti um misto de revolta e pena do pobre coitado que escreveu isso. Revolta porque estamos em pleno século XXI e boa parte das pessoas ainda se encontra com a mentalidade de dois séculos atrás; revolta porque a maioria dos seres humanos encontra-se no estágio mineral da evolução, sem a menor sensibilidade para as coisas do espírito. Pena porque uma criatura que escreve algo desse tipo é tão ignorante, tão sem bom senso, tão sem noção e evidente que não tem o menor conhecimento de Literatura - tema da resenha, que só me resta sentir pena mesmo. Em primeiro lugar, se ele conclui dizendo: "o que não seria problema algum", por que comentar, então? Se ele não se importa, qual a necessidade de se prender a esse detalhe? É no mínimo uma afirmação contraditória.
Antes os homofóbicos assumidos do que essa gente que encobre seus preconceitos sob a faixada da modernidade. Em nossa sociedade é proibido a dois homens trocar palavras de afeto e amizade que já são rotulados de homossexuais, como se isso fosse crime. E se fossem, que diferença faria? Nossa sociedade é ainda influenciada pela "síndrome do macho dominante", onde para ser homem de verdade é necessário ser grosseiro e sob hipótese alguma, demonstrar suas emoções. O ponto em questão não é a opção sexual dos autores, mas sim a sensibilidade de suas reflexões, que cabem a qualquer ser humano - homem, mulher, hetero, homo, jovem ou idoso.
Infelizmente nossa sociedade está cada vez mais míope, porque só enxerga as coisas através da lente do preconceito com o diferente,com o que está "fora dos padrões". Demonstrar sentimentos em público é para poucos e atitude raríssima em tempos de superficialidade generalizada.
Independente da opção sexual dos autores em questão, ao externalizar seus medos e experiências eles foram muito "mais homens" do que a maioria que assim se considera.
Preconceito é ignorância.

quarta-feira, julho 07, 2010



Que a luz luza. Que a paz paze. Que o som soe.Que a mãe manhe. Que o pai paie. Que o sol sole. Que o filho filhe. Que a árvore arvore. Que o ninho aninhe. Que o mar mare. Que a cor core.Que o abraço abrace.Que o perdão perdoe. Que tudo vire verbo e verbe. Verde. Como a esperança. Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos.

(Arthur da Távora)

sexta-feira, julho 02, 2010

Decálogo Feminino



Sou seguidora de *Fabrício Carpinejar no twitter e adoro a maneira sensível e ao mesmo tempo(acredite, ele é capaz!) objetiva com a qual ele escreve. O cara simplesmente conseguiu resumir o universo feminino e suas complexidades num decálogo! Me reconheci no texto e acredito que muitas outras mulheres irão se reconhecer ao lê-lo. Gostei tanto que resolvi transcrevê-lo aqui:


1)Não vou esperar o homem me elogiar. Eu mesma me elogio;

2) Se elogie um pouco por dia, para acreditar no elogio dos outros;

3) Quem não se elogia ainda não se conhece;

4)Depois que nasci, não tenho onde me esconder, minha alegria é um escândalo;

5) Já treinei minha letra. Quero amor que escreva com as duas mãos;

6) Toda lingerie é uma carta. Escolho o envelope com capricho;

7) Você dirá que não me conhece de nenhum lugar porque teria se lembrado;

8) Fecho meus olhos por educação, dou um tempo para que você se recupere;

9) Prendo os cabelos para voltar à infância e solto para esquecer quem sou;

10) Eu caso comigo primeiro, todo homem que vier depois será meu amante.


*Carpinejar é Professor Universitário e Poeta