quinta-feira, maio 28, 2009

Pérolas

Todos que me conhecem sabem que moro numa república com mais quatro pessoas.
Não há nada mais enriquecedor que morar com pessoas diferentes, de cidades, hábitos e preferências diferentes. Três delas, um rapaz e duas moças, são naturais de Paramirim, uma cidade do interior da Bahia, a seis horas de Vitória da Conquista, se não me engano. O rapaz e uma das moças cursam Enfermagem. A outra cursa Medicina. A terceira moça é de Teresópolis, Região Serrana do Rio e cursa Serviço Social. E eu, que sou daqui mesmo, mas que optei por morar em república por questões pessoais, curso Letras. Suas conversas giram sempre em torno de questões profundas, de grande relevância para o mundo acadêmico e consequentemente, para suas futuras profissões.
Tem sido uma experiência única em minha vida. Momentos há em que a convivência chega até mesmo ser terapêutica. Um dia desses, uma das moças, que há algum tempo vem mantendo contato com um amigo que conheceu na rede e que é de Portugal, vira para mim e diz: “Ele vem ao Brasil em junho, pois tem parentes aqui e quer aproveitar para me conhecer. Você sabe quantas horas de viagem são de Portugal até aqui”? Eu respondo: “Não faço a menor ideia”. E ela continua: “Portugal fica perto da Colômbia, né?” Eu respondo: "Você não sabia? A Colômbia passou a integrar o Mercosul, que assinou um acordo econômico com a União Européia, o que provocou um abalo sísmico e resultou numa mudança geográfica: Portugal, agora, fica na América do Sul".
Dias depois, tenho a oportunidade de ampliar meus conhecimentos, com outra demonstração de erudição: “O que é corpo docente?” Eu explico: “São os professores”. Ela: “E corpo discente?” Eu respondo: “São os alunos”. Eu juro que tentei me controlar, mas não me contive: “E você, sabe o que é indecente"? Ela: “Hum?” Eu: “indecente é uma universitária não saber o que significam ‘docente e dicente'"!
Para mim é edificante conviver com pessoas de tamanha sabedoria, tão inclinadas às coisas do espírito.
Alguém conhece, no meio acadêmico, povo mais sábio e com visão de mundo mais ampla, que esse da saúde? Se alguém conhecer, por favor, me informe.
Pretendo organizar um colóquio.

quarta-feira, maio 27, 2009

Mulher de Trinta (A. Jabor)



À medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30:
Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar;
Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...
E geralmente é alguma coisa bem mais interessante;
Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer.
Elas não ficam com quem não confiam;
Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.
Você nunca precisa confessar seus pecados... elas sempre sabem...
Ficam lindas quando usam batom vermelho.
O mesmo não acontece com mulheres mais jovens...
Mulheres mais velhas são diretas e honestas.
Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!!!
Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela, basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...
Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos!!!
Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em
bermudões amarelos e sandália raider bancando o bobo para uma garota de 19 anos...
Senhoras, eu peço desculpas!!!
Para todos os homens que dizem: "Porque comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça?", aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das
mulheres são contra o casamento e sabem por quê???
Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter 100g de linguiça!.
Nada mais justo.

quinta-feira, maio 21, 2009

Missões

Existem três coisas na vida para as quais eu nasci e pelas quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para ser mãe. O "amar os outros" é tão amplo que inclui até perdão por mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão essenciais que minha vida é curta para tanto. Amar os outros é a minha única salvação: ninguém estará perdido se der amor e se às vezes receber amor em troca.

E nasci para escrever. A palavra é a substância de que sou feita. Minha comunhão com o mundo. Desde a infância fui seduzida pela magia das palavras e não sei o porquê, foi esta a vocação que segui. Talvez porque escrever seja uma espécie de verborragia: o fluxo da vida se vivendo em nós e através de nós. Aos cinco anos iniciei-me nessa alquimia para que um dia tivesse o poder de dominar as palavras: se me dão papel pautado, escrevo do outro lado. Mas cada vez que vou escrever é como se fosse a primeira.
A possibilidade de renascer toda vez que escrevo é o que eu chamo de viver. E quero renascer sempre.

Brás Cubas não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria; eu, porém, a transmitiria de bom grado. Mas os filhos não vieram, nem acredito que ainda possam vir: para tudo há tempo, e o meu, nesse caso, já passou. Mas se tivessem vindo, creio que eu teria sido boa mãe, porque era um desejo muito forte e sincero. Eles não vieram e eu segui, sem deixar minha descendência no mundo.

Mas sempre me restará amar. Escrever é uma experiência extremamente forte, mas que pode me abandonar: posso sentir um dia que já escrevi tudo o que me cabia e que também devo saber o momento de parar. Escrever não me dá garantia.
Ao passo que amar posso até a hora da morte. Morte? Eu não vivo. Uma alma vive em mim. Por isso possuo a arte de dominar o infinito. Amar não acaba.
Não ter tido meus próprios filhos não quer dizer que não sou mãe: toda mulher já nasce mãe, ainda que os filhos não venham. Além do mais, não ter filhos me dá a chance de ser educadora da humanidade. É como se o mundo estivesse a me chamar: "não tivestes filhos; estou à sua espera". E eu vou ao encontro do que me espera.

Espero em todas as Deusas não viver de coisas passadas. Quero viver o agora.
Acho Salvador uma beleza, não sou tão feia que não possa encontrar meu homem e ora sim, ora não, acredito em parto sem dor...

Contos de Fadas




Adoro crianças, tenho muito traquejo com elas, mas desde que me entendo por gente, nunca me enquadrei, como a maioria das mulheres, nesse perfil de vestido de noiva, casamento, dona de casa. Nada contra, mas acredito que não é a única maneira de uma mulher se sentir realizada. Ainda na infância, percebi que era diferente das meninas da minha idade: sempre gostei de coisas que praticamente nenhuma delas gostava, tinha uma curiosidade enorme em conhecer o novo, o diferente. Não sei se pelo fato de ter sido criada em meio aos mais velhos e sem crianças ao redor, sempre diziam que eu já havia nascido adulta. Para o bem ou para o mal, minha adolescência foi uma fase que teve uma certa dose de rebeldia, muitos questionamentos, dúvidas, enfim, um emaranhado de perguntas sem respostas que me levaram ao amadurecimento precoce. Aos dezesseis anos me tornei mulher. Foi um período um tanto doloroso, tanto física quanto emocional e psicologicamente, mas que teve sua dose de encanto...
Namorados? Tive poucos. Aliás, pouquíssimos, se levar em conta a liquidez dos relacionamentos modernos. Talvez por isso tenha me tornado algo que me situa entre ser homem e mulher: apesar de pertencer ao sexo feminino, não me reconheço como uma integrante de meu gênero, no que diz respeito a forma de pensar, agir e ser da maioria das mulheres. Sou mulher, adoro pertencer à espécie, mas na maior parte do tempo, penso com o senso prático tão peculiar do sexo masculino. Mas não abro mão da docilidade e ternura femininas. Creio que aprendi a dosar bem as duas coisas. Cheguei à balzaquianice assumida e orgulhasamente solteira, e acredito que chegar a essa altura da vida sem ter casado me foi um tanto benéfico: se por um lado, não tive a chance de desfrutar as delícias e desventuras da maternidade, por outro, aprendi que estar só é estar bem comigo mesma, luxuosamente só, imersa em atividades de minha própria escolha, apreciando a própria presença mais que a ausência de outros. A solidão é um ganho pessoal.
Não quero um príncipe. Deus me livre! Primeiro porque sou de carne e osso(mais carne que osso, diga-se de passagem) e príncipes só existem em contos de fadas; depois, já passei da idade das fantasias e apesar de viver com a cabeça nas nuvens, mantenho os pés enraizados no chão; e ainda tem mais uma coisa: dias há em que acordo ogra. E um príncipe, certamente, não suportaria isso. O que quero mesmo é uma parceria para vida. Sem a menor necessidade de contratos, burocracias ou juramentos. Casamento é comunhão de almas. Sentimentos cabem numa folha de papel?