quinta-feira, dezembro 31, 2009

Receita de Ano Novo



"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre".

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, dezembro 30, 2009

"Conhece-te a ti mesmo"



O ano vai terminando, a década também.
Comecei a pensar com qual idade eu estava em 1999, onde trabalhava, se estava namorando, essas coisas. Eu ainda tinha 22 anos, trabalhava numa rede de supermercados e deixei esse emprego para ser corretora de planos de saúde; minha avó paterna, com cujo nome fui batizada, retornou à origem; foi ainda nesse ano que deixei de apenas existir e comecei a viver; foi nesse ano que consegui encontrar forças para romper definitivamente uma relação doentia, que me aprisionou por longos e inacreditáveis seis anos. Olhando para trás, parece que foi ontem. Não havia parado para pensar que já se vão dez anos. Nesse período cresci como filha, como ser humano e como mulher. Afinal é essa a função da dor e da desilusão: nos empurrar para frente e abrir nossa visão, que muitas vezes encontra-se cega pela paixão, pela fantasia, pela ilusão e não nos permite ver o que é óbvio. Nesse caso a dor me despertou a procura pelo autoconhecimento. Quando me abri para a Vida, ela me sorriu graciosamente e me apontou o Caminho da espiritualidade. Tive o privilégio de conhecer o Ensinamento da Seicho-No-Ie ainda na primeira metade da década. O véu da ilusão finalmente foi tirado dos meus olhos. Participei de Seminários, Estágio, Conferências e toda a sorte de eventos dentro do Movimento de Iluminação da Humanidade; tive a honra de atuar como Líder, de coordenar um departamento, enfim, de trabalhar pela felicidade do semelhante; fiz amigos, ampliei e tive muitos ganhos pessoais. Passados cinco anos, quero estudar mais, aprimorar meus conhecimentos e me dedicar exclusivamente à Doutrina. O ano de 2009 se encerra com o início de um projeto social, sonho que cultivo há alguns anos. O ano não poderia terminar de melhor maneira para mim.
O ano de 2010 será um ano de finalizações de alguns projetos e inícios de outros. Retorno à faculdade, dedicação aos Estudos Doutrinários, continuidade do projeto social.
Tenho fé que daqui um ano, quando 2010 estiver se encerrando, a instituição estará fundada e o projeto acontecendo a todo vapor.

Que a nova década seja marcada por uma tomada de consciência: ecológica, humana e universal. Que os líderes e governantes possam se dar conta do seu verdadeiro papel enquanto representantes de seus respectivos povos; que a humanidade possa despertar para uma cultura de paz, respeito e coletividade, para que finalmente sejamos dignos de nos considerarmos "humanos".

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Progresso

Não sei ao certo de qual esfera vim, mas certamente não é da mesma que a grande maioria dos seres humanos veio. Desde que me entendo por gente o mundo me parece um lugar sem sentido algum, funcionando por uma lógica insana e alienante. Enquanto grande parte da humanidade se aferroa por bens, posses, posição social e grana, meu sonho de consumo é levar uma vida simples e tranquila, sem ter que carregar tantos fardos. Quero viver simplesmente. Sem me preocupar com o amanhã, com o depois, com o porvir. "A cada dia basta o seu cuidado", diz a Escritura. Quero viver do suor do meu trabalho sem que para isso eu tenha que sacrificar minha saúde, o tempo com a família, com os amigos e comigo mesma.
Se à essa correria frenética e insandecida chamam progresso, por que ele causa estresse, depressão, síndrome do pânico, fobia e tantos outros males? Dentre os vários significados do vocábulo "progresso" podemos encontrar os seguintes, no dicionário: " Adiantamento cultural gradativo da humanidade; melhoramento gradual das condições econômicas e culturais da humanidade, de uma nação ou comunidade; transformação gradual que vai do bom para o melhor". Diante desse dado, coloca-se uma questão a ser ponderada: se determinado padrão de vida provoca uma série de danos psicológicos, emocionais e físicos, onde está o "adiantamento", o "melhoramento"? Dentro dessa perspectiva, apresenta-se mais uma reflexão a considerar: se apenas uma minoria da humanidade tem acesso ao crescimento econômico, à cultura, à educação e à saúde, como pode-se afirmar que há progresso, melhoramento ou adiantamento? Penso que se o progresso econômico e material nos chega desacompanhado de progresso ético e moral, não pode ser assim considerado...
Refletindo sobre a natureza do dinheiro, chega-se à conclusão de que ele nada mais é que um pedaço de papel que não possui valor por si mesmo. O homem é quem lhe atribui valor e por ele se corrompe e se escraviza. Em determinada época da História da humanidade alguém criou a moeda e disse que ela tinha valor; os imbecis do tempo acreditaram. Os que vieram depois tornaram-se seguidores. Estava fundado o "Dinheiroísmo".
Por mim eu viveria tranquilamente em uma sociedade de permuta e escambo. Certamente viveríamos num mundo mais pacífico, mais equilibrado e mais justo e seríamos dignos de sermos chamados de "seres humanos"...

sexta-feira, novembro 20, 2009

"EU TENHO UM SONHO"

"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

Fonte: colaboração de Hernani Francisco da Silva, da Missão Quilombos Martin Luther King - 15/01/1929

Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

segunda-feira, novembro 09, 2009

"Berlim 1989"

"Eles odiavam o Muro, mas o que podiam fazer? Era muito forte para ser derrubado. Eles temiam o Muro, mas isso não faz sentido. Muitos que tentaram pular foram mortos. Eles suspeitavam do Muro, mas quem não suspeitaria? Seus inimigos se negavam a quebrar um tijolo, não importava o quão avançadas estavam as negociações de paz.
O Muro riu gravemente: 'Estou lhes ensinando uma bela lição', balbuciou. 'Se querem construir algo para a eternidade não usem pedras. Ódio, medo e desconfiança são muito mais fortes'.
Eles sabiam que o Muro tinha razão e quase desistiram. Apenas uma coisa os impediu. Eles se lembraram daqueles que estavam do outro lado. Avós, primas, irmãs, esposas. Rostos amados que ansiavam ver.
'O que há?', o Muro perguntou tremendo. Sem saber o que faziam, eles olhavam através do Muro, tentando localizar seus entes queridos. Silenciosamente, de uma pessoa a outra o Amor manteve o trabalho invisível.
'Parem', o Muro gritou. 'Estou desmoronando'. Mas era tarde demais. Um milhão de corações já haviam se encontrado. O Muro havia desmoronado".


(Do Livro "Dancing The Dream", by Michael Jackson)


*Hoje completam-se 20 anos da queda dessa monstruosa e bestial criação humana...

segunda-feira, novembro 02, 2009

"THIS IS IT", The Movie

Ontem fui assistir "THIS IS IT" com Michele, Daiana e Lettícia, minhas mais novas amigas de infância, graças a MJ...
O documentário mostra um artista em pleno auge de sua capacidade de criação e realização do seu trabalho. Seu envolvimento com a equipe, seu profissionalismo e acima de tudo, o respeito com que trata todos à sua volta são uma constante na película. Os bailarinos são uma atração à parte, pois são todos jovens que cresceram ao som de músicas do Rei do Pop, encantados com a magia de sua dança e que passaram boa parte da vida sonhando trabalhar com o ídolo. Em vários momentos os bailarinos são flagrados em completo estado de êxtase, como em "I Just Can't Stop Loving You", em que MJ pede: "por favor, não me obriguem a cantar para valer quando não há necessidade, pois estou tentando poupar a voz"...
O documentário revela um Michael pouco conhecido do grande público, mas que não surpreende a maioria de seus seguidores, pois estes já estão mais que habituados com as demonstrações de gentileza e afeto com que MJ trata todos à sua volta.
"THIS IS IT", o show que nunca veremos, seria, como o próprio nome diz, a síntese da genialidade de um artista para o qual o céu é o limite quando o assunto é criatividade, inovação e perfeccionismo. Para um artista que viveu apenas cinquenta anos, mas que brilhou por 45, "THIS IS IT" seria o show-síntese da obra de toda uma vida dedicada à música, à dança, ao entretenimento e ao humanitarismo.
O documentário mostra o porquê MJ é e sempre será o REI DO POP. SAVE THE KING!
"LOVE LIVES FOREVER". L-O-V-E...

quarta-feira, outubro 21, 2009

Gratidão

Ontem finalmente concluí minha Iniciação Científica do CNPq com apresentação de trabalho no Seminário da faculdade. Para minha absoluta surpresa havia uma banca avaliadora, o que me deixou um pouco apreensiva no começo, mas depois encarei a pedreira com certa naturalidade.
A responsável pela banca, Profª titular da UERJ, avaliou nosso trabalho de forma extremamente positiva, o que culminou em um convite para integrar uma equipe de pesquisadores de um projeto do qual ela é responsável. Eu, que estou afastada da faculdade nesse semestre, não poderia receber presente melhor. Esse convite simplesmente me deu novo ânimo, me fez recuperar o entusiasmo pelo meu curso. É muito gratificante olhar para trás e lembrar que há um ano, quando tudo começou, eu estava completamente insegura, porque precisava trabalhar, dar conta de todas as responsabilidades da faculdade e ainda mostrar resultados da pesquisa. Foi uma experiência não apenas acadêmica, mas principalmente para a vida, porque precisei driblar diversos obstáculos e fazer escolhas difíceis durante a vigência da bolsa-auxílio. Mas todo o esforço valeu muitíssimo à pena, aprendi lições inestimáveis. Foi uma vivência tão enriquecedora que pretendo repeti-la outras vezes, tantas quantas forem possíveis e necessárias...
Me sinto muito grata por ter recebido essa oportunidade. Grata a Deus, porque me deu a vida, aos meus antepassados e aos meus pais, que me trouxeram ao mundo e me deram a possibilidade de vivenciar a maravilhosa aventura que é viver.
Depois de todas essas pessoas, que são as mais importantes para mim, quero agradecer muitíssimo ao meu querido amigo, companheiro e Mestre Frazão, que dentre uma centena de alunos, me escolheu para ser não apenas sua orientanda, mas principalmente, sua amiga. Existem pessoas que simplesmente passam por nossa vida. Outras têm o poder de chegar e aos poucos vão conquistando espaço, confiança e afeto e a esses chamamos de amigos. Mestre Frazão, muito obrigado por tudo!!
Certas experiências na vida vêm para que possamos ter a ventura de conhecer pessoas incríveis e aprender preciosas lições...

sábado, outubro 17, 2009

Origem

Não sei exatamente qual minha origem, apenas sinto que não pertenço a este mundo. Nele falta espaço para meus delírios, para minha sede de Vida. Meu corpo não comporta meu espírito, assim como meus sonhos não cabem em minha mente. O Meu coração é pequenino demais para suportar o Amor que vive em mim. A Alma do Mundo me estende os braços, clamando por ajuda, ansiando por meu trabalho. Aos poucos estou rompendo a casca do ego rumo à Consciência Universal. Meus interesses vão se transformando à medida em que o tempo passa; amo cada vez mais o silêncio, a benção da solidão. As multidões me causam incômodo e desequilíbrio. Vou me afastando naturalmente da vida comum para me integrar à Vida interna, à Realidade para além das aparências. Creio que se eu tivesse a oportunidade de retornar à origem nesse momento, voltaria de bom grado, mas o serviço me espera, os irmãos me esperam. Ainda há muito o que fazer, muito o que realizar e por isso ainda fico. Mas a vontade de partir me toma de assalto quando menos espero: deve ser a alma reclamando seu direito à liberdade, seu direito de viver em comunhão com o Todo...
Por isso sinto esse aperto no peito. Não sei se a minha alma quer unir-se ao Infinito ou se a Alma do Mundo quer entrar em meu coração...

"Human Nature" by The King of Pop

sexta-feira, outubro 16, 2009

TEACH ME AGAIN by Elisa feat. Tina Turner

Trilha Sonora do filme "Crianças Invisíveis"

Essência

Eu não queria um corpo. Queria apenas SER...
Expressar minha natureza real, sem amarras, sem desejos, sem aspirações. Queria poder viver para aquilo que SOU na realidade. Esse mundo é uma grande e insana ilusão: tudo o que verdadeiramente existe não está ao alcance dos sentidos. Quero desabrochar tal como uma flor, voar tal como um pássaro, nadar tal como um peixe e revelar a essência de que sou feita e a finalidade com a qual nasci neste mundo...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Felicidade

Passei uma boa parte da vida buscando o Amor, buscando um companheiro com quem pudesse compartilhar o que acredito ser uma das mais sublimes experiências da existência humana. Ao longo desse tempo, porém, não tive a ventura de encontrá-lo (ou será que ele passou por mim e eu não percebi?),mas por outro ado, aprendi muito com as pessoas com as quais me relacionei. Como podemos acreditar que a felicidade virá de uma pessoa, de um bem material, de um lugar ou de qualquer outro fator externo? Por que acreditamos que somente depois de conseguirmos um emprego dos sonhos, o carro do ano, o título acadêmico, o par ideal, poderemos ser felizes?
Uma outra parte da vida passei acreditando que não era merecedora de viver um Amor, de ter alguém para compartilhar a vida e sofria bastante por isso. Mas sempre tive o saudável hábito de acreditar que todos os fatos que ocorrem na vida, sejam positivos ou negativos, trazem consigo aprendizados valiosíssimos. Dentre as descobertas que fiz, e que provavelmente é a mais libertadora, a mais reveladora e a que mais está viva em meu coração é sobre a felicidade, esse tão sonhado paraíso...
Aprendi que felicidade é uma atitude absolutamente interna, um estado de espírito. Aprendi com as amargas, porém instrutivas experiências da vida, que sou o único ser humano responsável por minha felicidade e que ninguém tem a obrigação de me fazer feliz ou de corresponder às minhas expectativas, preencher minhas frustrações, só porque eu quero ou só porque eu idealizo. Só eu posso saber o que minha alma reclama, o que meu coração deseja, o que quero da vida. Portanto, a única pessoa capaz de alacançá-la sou eu mesma. É, no mínimo, uma incoerência e um pouco de ingenuidade, deixar nas mãos de uma outra pessoa a responsabilidade pela minha felicidade...
E ainda existe uma outra descoberta, tão valiosa quanto a primeira: o Amor que existe em mim não ficou restringido e condicionado à uma só pessoa, minha alma é livre, serena e não sou atormentada pelo medo da perda, do abandono. O Amor que habita em mim é imparcial, me fez aprender a amar meu semelhante, a compreender suas dores, me trouxe uma perspectiva mais ampla, porque não estou com minha visão centrada no ego, nas dores que uma paixão provoca. Estou completamente integrada à família humana, independente de raça, credo, situação sócio-econômica ou cultural.
Quero viajar, conhecer novas culturas, novas pessoas, novas formas de me fazer feliz.
Que inquietude é esta que me aperta o peito? Minha alma quer fundir-se com o Infinito ou a Alma do Mundo quer invadir meu coração?

quarta-feira, setembro 30, 2009

Missão cumprida

Finalmente a Conferência do Departamento Feminino se concretizou. Tudo correu na mais perfeita ordem e harmonia, toda a equipe trabalhou em sintonia, tudo ótimo!!
Para ser sincera, ainda não consigi acreditar. Depois de cinco anos participando do Movimento de Iluminação da Humanidade, consegui planejar e realizar um evento. O melhor de tudo é saber que de alguma forma estou contribuindo para que algumas famílias tenham a harmonia do lar restabelecidas, mulheres reconciliadas com seus maridos, com a auto-estima resgatada...
A felicidade que estou sentindo por ser útil àquelas mulheres que participaram do evento é simplesmente impagável. Estou muito satisfeita com o resultado porque ele mostra que eu e a equipe estamos com nossas mentes em harmonia, que somos capazes; me mostra também que possuo capacidade de liderar e agregar pessoas, de atrair colaboradores. Esse evento foi importantíssimo para o a união do grupo e para o fortalecimento da autoconfiança de todas.
Fomos todos muito elogiados, o trabalho do Departamento Feminino foi amplamente reconhecido pela Diretora Nacional e com isso,finalmente conquistamos credibilidade e respeito. Daqui para frente nossas sugestões e opiniões serão ouvidas.
Já não era sem tempo...
Agora é trabalhar e muito para o Seminário da Luz, preparar a reunião do Grupo Salve o Mundo e minha apresentação no Seminário do CNPq.
Haja fôlego! Mas quem disse que tenho que escolher? Sei fazer tudo. Sou mulher...

terça-feira, setembro 22, 2009

Trabalho, propriedade e pobreza

"Nunca ninguém disse que uma miséria opressora leve à outra coisa que não à degradação moral. Todo ser humano tem o direito de viver, e portanto, de encontrar o necessário para alimentar-se, vestir-se e habitar. Para essa incumbência tão simples não precisamos da ajuda dos economistas e de suas leis.
'Não se preocupem com o amanhã' é um conselho que se encontra em quase todas as Sagradas Escrituras do mundo. A garantia dos meios de subsistência deveria ser, e resulta que é, a coisa mais fácil do mundo numa sociedade bem ordenada. Na verdade, a prova de boa ordem num país não é dada pelo número de milionários que tem, mas pela ausência de fome entre as massas".

(Mahatma Gandhi)

domingo, setembro 20, 2009

Sinfonia Universal

Minha vida tem sido uma permanente busca pela Verdade. Não consigo enxergar sentido algum em vivê-la somente em proveito próprio, sem me preocupar com as crianças, os doentes e os pobres. Simplesmente não consigo passar pela vida alheia aos que sofrem. Nenhum ser humano vem ao mundo para passar por privação, dor ou carência. Nenhum ser humano nasce condenado.
Se eu não me identificar com a humanidade, que direito tenho de me considerar humana? Se eu não for capaz de sentir a dor do meu semelhante, como posso me considerar pessoa sã? Se eu não tiver a capacidade de manifestar misericórdia, como posso me considerar um ser racional? Posto que a humanidade é intrinsecamente um todo indivisível, enquanto existirem pessoas algemadas pelo sofrimento, não tenho o direito de falar em liberdade.
Que minha Vida seja instrumento da Criação, e que através de mim seja executada a sublime sinfonia do Universo e que eu possa oferecer à raça humana melodias harmônicas capazes de curar suas dores...

terça-feira, setembro 15, 2009

Amor Sincero

Fatos tristes não se originam do mundo exterior. Eles ocorrem quando não temos capacidade de manifestar Amor sincero. Não há quem não tenha Amor sincero no recôndito da alma. Apenas acontece que, na maioria das vezes, as pessoas não o manifestam, por vergonha, por acreditar que seja piegas ou simplesmente porque não lhe ensinaram a manifestá-lo. Manifestar Amor sincero implica em praticar o bem, vivificando o agora. Quando o ser humano for capaz de manifestar Amor sincero em todos os atos, este mundo se transformará em paraíso.

domingo, setembro 13, 2009

Gone Too Soon

Nos conhecemos ainda crianças, no primário, ambos com doze anos. Concluímos o ensino fundamental juntos, mudamos para a mesma escola, concluímos o ensino médio. Numa tarde da década de 90, encontrei sua mãe na rua, que quando me viu, simplesmente caiu em prantos. Eu, sem saber o que fazer, só pude abraçá-la e tentar confortá-la. Foi quando ela me deu a notícia: você havia contraído o HIV e tornara-se mais uma estatística. A princípio fiquei surpresa, mas eu não podia pensar nisso, pois precisava dar forças à sua mãe. Então eu a acalmei e disse que ser soropositivo não era sentença de morte, que haviam remédios, tratamentos, enfim, que você poderia levar uma vida quase normal...
Por essa época já contávamos vinte anos. Nos tornamos adultos, os anos passaram, mas a amizade não. Quando você resolveu sair de casa me deu seus contatos e toda vez que trocava de endereço me avisava. Nunca nos abandonamos, nunca nos perdemos. Essas afinidades foram percebidas ainda na infância, pela forma como sentimos, percebemos e encaramos o mundo, as pessoas, a vida. Sempre senti você como um irmão que a genética não me ofereceu, mas que a vida generosamente me presenteou. E acredito também que você sentia o mesmo. Durante vinte anos fomos amigos, irmãos, confidentes, companheiros da vida. Talvez eu nunca mais tenha um amigo como você, que me fizesse sentir tão à vontade, com quem eu podia falar sobre qualquer assunto, porque assim como eu, não trazia preconceitos arraigados nem no coração, nem na alma. Há uns dois ou três anos atrás veio a cegueira. E você, o que fez? Simplesmente sorriu para a vida e encarou a pedreira, com tamanha coragem, com tamanha vontade de viver, que faria inveja a qualquer suicida, qualquer depressivo. Você prestou vestibular para Letras (até o curso escolhemos o mesmo), foi aprovado e simplesmente foi o primeiro portador de deficiência visual a estudar naquela universidade; simplesmente apresentou um programa de computador especialmente desenvolvido para deficientes visuais, assim como conquistou respeito e admiração de colegas, professores, funcionários. E o que dizer da família e dos amigos?
Nunca a cegueira dos olhos foi desculpa para cegar-lhe a alma. Você fez curso de massoterapia e tornou-se um dos profissionais mais respeitados da área. Dessa vez a vida nos colocou na mesma profissão, comprovando assim, que somos mesmo irmãos de coração. Trabalhou num projeto social, prestando atendimento às senhoras da terceira idade. Em julho passado você concluiu a faculdade e pretendíamos trabalhar juntos num projeto de educação de jovens e adultos, se não fosse o fato da doença ter agravado seu estado de saúde, pois há um ano, os remédios não faziam mais efeito e tentava adaptar-se a outros medicamentos, sem sucesso.
Hoje completa um mês que partiu, retornando à origem, à pátria para onde todos nós iremos um dia. Com apenas trinta e dois anos, tenho certeza de que você viveu cem, duzentos anos. As experiências pelas quais passou e viveu, foram grandes lições, sem dúvida alguma. Mas em meu coração trago a certeza de que você está em um lugar merecido, uma vez que soube fazer de sua vida um belo, sublime e verdadeiro espetáculo. Deixa muitas saudades, é certo, mas principalmente, a lição de que limitações físicas não são desculpas para limitações da alma; a lição de que o espírito, quando forte, quando não se permite envenenar pelas agruras do mundo, é capaz de sobrepujar e vencer a matéria. Você comprovou, mais uma vez, que a Mente humana é responsável por nossas escolhas, portanto, somos nós os roteiristas do nosso destino. Nosso destino é moldado pela nossa mente, pelas escolhas que fazemos.
Você fez a diferença neste mundo porque soube fazer da sua vida o palco de expressão da Verdade, do Bem e do Belo.
A você, Alexander, meu amigo, irmão, confidente, companheiro, meu muito obrigado, por trazer Luz à minha vida e por nessa passagem pela Terra ter tido a chance de ser parte da sua.
Você partiu e nem sequer soube que eu tinha conhecimento da doença. Que diferença isso faria?
Como dia letra da canção:
"não é preciso ter conta sanguínea,
é preciso ter sempre
um pouco mais de sintonia,
família..."

sábado, setembro 12, 2009

Desapego

Hoje completa um mês. Um mês que você resolveu ficar. Quando eu já havia desistido, quando eu já nem sequer pensava mais em coisas de relacionamento, você ressurgiu das cinzas. Logo você, que nunca botei fé, que nunca levei a sério. Hoje estive pensando em como certas coisas acontecem na vida: será que é mesmo você a pessoa com quem vou acertar, construir? É simplesmente intrigante o fato de nos conhecermos há 20 anos e de que ao longo desse tempo a vida nos afastou e nos aproximou por diversas vezes...
Deixemos que o tempo se encarregue das respostas. Eu, por enquanto, não pretendo pensar sobre isso. Só quero viver o que a Vida me trouxer. Se me fizer bem, vou procurar retribuí-la pelo presente, pela dádiva. Se não fizer,trato logo de arrancar o mal pela raiz, pois não tenho mais a paciência nem o medo da solidão que assola a maioria das minhas colegas do sexo feminino. Afinal, cinco anos sozinha foram mais que suficientes para aprender a lidar com ela, me conhecer melhor e principalmente, me sentir mais segura. Se me quer bem e me faz bem, eu vo-lo faço; se não, vo-lo expulso. Simples assim.
Que a espera valha à pena; que esse tempo de dupla jornada de trabalho passe rápido, muito rápido, pois quero poder desfrutar de sua companhia com mais frequência, por períodos mais longos...
Que seja eterno enquanto dure, enquanto são, enquanto recíproco.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Human Nature

Que o meu viver
possa tornar
a existência
do meu semelhante
mais branda,
mais doce,
mais cheia de sentidos...

Que o meu viver
possa tornar
a vida do meu próximo
menos sombria,
menos amarga,
menos caótica.

Que com o passar
do tempo
minha existência
vá tornando-se
tão bela,
tão autêntica,
e tão sublime
quanto o viver
dos poetas,
dos sábios,
dos santos,
dos reformadores,
dos loucos.

Que o meu viver
seja como
o retrato
da Sabedoria dos velhos
e espelho
para os ideais dos mais novos...

sábado, agosto 29, 2009

Mãe Terra

"Caminhando pela praia em um dia de inverno,olhei para baixo e vi uma onda trazer uma pena para a areia. Era a pena de uma gaivota suja de petróleo. Eu peguei na mão e senti o óleo escorrendo pelos dedos. Não pude deixar de pensar se o pássaro teria sobrevivido. 'Estava tudo bem por lá?', eu sabia que não.

Fiquei triste ao pensar como cuidamos tão mal de nosso lar. A Terra que dividimos não é só uma pedra em meio ao espaço, e sim um ser vivo, cultivado. Ela se importa com a gente; merece nosso cuidado em troca. Temos tratado da Mãe Terra do jeito que as pessoas tratam de um apartamento alugado. 'Acaba com tudo e segue em frente'.

Mas não tem para onde seguir agora. Trouxemos nosso lixo, nossas guerras e nosso racismo para toda a parte do mundo. Temos que começar a limpá-la, e isso significa limpar os nossos próprios corações e mentes primeiro, porque foram eles que nos fizeram envenenar nosso querido planeta. Quanto mais rápido mudarmos, mais fácil será para sentir nosso amor pela Mãe Terra e o Amor que ela nos dá tão desinteressadamente".

(From The Book Dancing The Dream, by Michael Jackson)

domingo, julho 05, 2009

Todo Amor que houver nessa Vida...

Minha vida não é minha.
Uma Alma me foi dada.
Nada possuo.
Verdadeiramente
nada me pertence.
Nem mesmo esse cárcere
a que chamamos corpo.
Quando eu partir,
ele se tornará adubo
para o solo,
fonte de Vida
para os vermes.
A única coisa que possuo
é o livre-arbítrio,
a liberdade de escolha.

E como roteirista
de minha existência
tenho apenas dois caminhos:
narrar uma estória medíocre,
insípida e inútil,
que nada acrescentará
àqueles que irão dividir
o palco comigo,
ou posso escolher
criar um verdadeiro concerto,
cujas melodias
possam ressoar no universo,
unindo mentes e corações,
em louvor à Criação.

Como protagonista
de mim mesma,
escolho fazer da Vida
minha grande obra-prima.
Para realizá-la,
preciso de artistas
dos mais variados
dons, talentos
e capacidades.
Para compor
minha obra máxima
preciso de todos.

Anulando o ego,
desatando as amarras
da incompreensão
e da intolerância,
mergulhando em meu semelhante,
quem sabe
posso alcançar
a profunda
e verdadeira essência
da natureza humana...

Eu não pertenço a mim mesma.
Todas as minhas obras
são realizadas pela
Sagrada Chama da Vida
que arde aqui dentro.

quarta-feira, julho 01, 2009

A Fome do Mundo

Sim, meu coração é menor que o mundo.
É muito menor.
Tão pequeno que nele não cabem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me escrever.
por isso me desnudo,
por isso me conto,
por isso frequento blogues, me exponho cruamente na rede:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem
todos os homens,
todas as pessoas,
toda a humanidade.

Só agora vejo que nele não cabem
todos os meus sonhos,
todos os meus ideais,
toda a minha sede

de um mundo
mais justo,
mais digno,
mais são,
mais humano.

Só agora vejo que ele é pequeno,
pequenino demais,
para suportar toda
a fome da alma,
todo o anseio
de Vida.

Só agora vejo
que sou Espírito
e estou
matéria.


sábado, junho 27, 2009

"Viver é negócio muito perigoso"

Quando fiquei sabendo da partida de Michael senti um aperto dolorido no peito, uma comoção meio sem sentido, sei lá. Meu pai sempre foi apaixonado pelos artistas da Motown e eu cresci ouvindo seus ídolos, que não sei se por influência ou por gosto próprio, se tornaram os meus. Os meus preferidos eram os Jackson Five, o estilo black power, as roupas coloridas, as músicas, a coreografia...
E só depois compreendi que não chorava apenas a despedida do ídolo, mas uma parte de minha vida que também morria com ele. Uma saudade do tempo em família, do tempo de menina, do tempo em que viver não doía, tempo em que o mundo era um lugar vivível...
Ontem assistindo aos noticiários sobre seu retorno à origem, fiquei a me perguntar o que move milhões de pessoas, em todo o mundo, a adorar tanto um ídolo. Não com o intuito de criticar, muito menos julgar. Apenas buscando entender o porquê de certos astros conseguirem mexer tanto com nossas emoções quando se vão para o olimpo. E acabei chegando à conclusão de que desde que o mundo é mundo, precisamos de heróis, mitos e deuses. Precisamos acreditar que existe algo além desse temível e inumano mundo que construímos e por isso elevamos nossos ídolos ao altar e os sagramos deuses. Temos a ilusão de que eles podem nos “salvar” do inferno que criamos. E por julgá-los semideuses, condenamos determinadas atitudes, deixando de refletir se não agiríamos da mesma maneira se estivéssemos em seus lugares, nos esquecendo que antes de serem ídolos, são humanos e tanto quanto nós, também têm seus próprios demônios por exorcizar, o incêndio da própria alma por apagar. Talvez as mudanças de fora tenham sido uma tentativa de amenizar o inferno que ardia por dentro.
No próprio nome trazia a marca da genialidade. Michael, de origem hebraica, quer dizer quem é como o Senhor e Jackson, de origem inglesa, uma variação do hebraico Jacob, que significa aquele que vence. De origem humilde, negro e pobre a senhor do pop. Michael soube, como poucos, nos transportar ao olimpo,com sua voz, sua música e sua dança. Suas performances nos davam a exata medida do impossível se realizando. O homem se escondia dentro do astro, na tentativa de expulsar mazelas; o homem que desejava para sempre ser menino, talvez porque soubesse que ser criança não dói, não fere .
Possivelmente a genialidade do astro tenha sido o tormento do homem. Assim como Van Gogh, Jimi Hendrix, Jim Morrison e tantos outros...
Parafraseando Drummond, em homenagem a Guimarães Rosa, “ficamos sem saber o que era Michael e se Michael existiu de se pegar”.

quinta-feira, junho 25, 2009

Clarice Lispector

Rifa-se um coração.
Rifa-se um coração quase novo, idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na verdade está um pouco usado,
Meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente e que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
“... não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...”.
Um idealista, um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes, revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
para engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado, indicado apenas
para quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
“O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
Só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e
se recusa a envelhecer”.
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
Tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora de mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

terça-feira, junho 23, 2009

Promessas Matrimoniais

por MARTA MEDEIROS*

"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"
Simplista e um pouco fora da realidade. Veja, aqui, novas sugestões de sermões:
a.. Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
b.. Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
c.. Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
d.. Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
e.. Promete se deixar conhecer?
f.. Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
g.. Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
h.. Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
i.. Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
j.. Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros".

*cronista e escritora

sábado, junho 20, 2009

Todas elas num só Ser

Sou habitada por uma legião diversa, esparsa e informe, que de mim faz o que sou e o que não sou. São muitas as mulheres que me habitam. Melodias multívocas executadas por um mesmo maestro. Ora soam plácidas, revigorantes; ora soam melancólicas como um grito de alerta. Ou de alento. Sou um ser concomitante: reúno em mim as mulheres de minhas raízes passadas, presentes e futuras. Sinto sede de Vida, de viver e gerar vida. Viver é meu anseio, a única salvação que conheço para encontrar a mim mesma. Quero viver todas as mulheres que existem em mim de uma só vez, na vida presente. Meu único limite é o corpo, esse casulo vil e cruel, escravizante e dominador. Quisera eu não possuí-lo e seria a mais feliz das criações: não existiriam desejos, nem dor, nem a escassez da beleza e do viço da juventude. Existiria unicamente minha essência, tal qual sou. Não haveria a imensidão da cama nem o abismo da alma.
O recurso da bolsa colorida, o recurso do sono, o recurso da música, o recurso da caminhada, o recurso da filosofia e da poesia. Todos eles... e nenhum resolve.
Quero beber a Vida de um só gole.
A boca está comendo Vida, o corpo está entupido de Vida.
A Vida é imortal, escorre e transborda.

sexta-feira, junho 19, 2009

A Arte do Feminino

Em certas manhãs, quando sinto um arcanjo se levantar de dentro de mim, desejo, da noite para o dia, me transformar em uma mulher dedicada aos afazeres de mãe, esposa e dona-de-casa, plena e realizada. Possivelmente eu estaria agora ocupada com alguma tarefa que ao menos preencheria meu tempo, povoaria meus pensamentos e não me daria a dimensão da solidão gritando, muda e desoladora. Só por hoje, desejaria ver a casa desarrumada, os brinquedos espalhados, o silêncio vencido pela algazarra das crianças. E de preparar uma saborosa refeição e servi-los numa mesa enorme e bem arrumada. Desejaria não um “marido”, mas um parceiro, um cúmplice para compartilhar a vida, as descobertas...
Nestas manhãs em que o arcanjo se levanta de dentro de mim, me dou conta do quanto determinadas escolhas podem definir rumos, criar destinos. Me dou conta do quão complexo é ser mulher: ser dócil e feminina, sensível e educada, mas sem deixar de lado a firmeza e a objetividade, para não correr o risco de se tornar uma pessoa emocionalmente dependente, frágil e constantemente em crise. Ser mulher hoje em dia não é tarefa para iniciantes. Quando se tem capacidade de raciocínio, então, nem se fala: para certos homens, inteligência funciona como repelente. Será que para se encontrar um namorado hoje em dia é pré-requisito ser burra e manipulável?
E ficamos ali, eu e o arcanjo, a conversar sobre as escolhas que fiz. Minha paixão pelos livros, minha sede de conhecimento, minha incessante busca pelas coisas do espírito, são uma sentença de solidão?
Já comentei certa vez que nunca sonhei com essa coisa de casamento, não da forma tradicional, como a maioria das mulheres. Só acho que não é para mim. Mas um companheiro, um parceiro para a vida, sempre desejei. E nem precisaríamos morar sob o mesmo teto. Bastava a companhia, a cumplicidade, o aconchego. Formalidades não nos dão garantia alguma. E além do mais, sou megalomaníaca e um casamento nos moldes tradicionais, me daria sensação de sufocamento, de tolhimento e obrigatoriedade. Eu gosto de ser livre e deixar o outro livre, para que esteja ao meu lado porque deseja e não porque se sente amarrado a um contrato.
Nestas manhãs o arcanjo se levanta, desperta meu instinto maternal, me faz lembrar que há quase cinco anos estou sozinha e adormece, sem me dar as respostas.

quinta-feira, maio 28, 2009

Pérolas

Todos que me conhecem sabem que moro numa república com mais quatro pessoas.
Não há nada mais enriquecedor que morar com pessoas diferentes, de cidades, hábitos e preferências diferentes. Três delas, um rapaz e duas moças, são naturais de Paramirim, uma cidade do interior da Bahia, a seis horas de Vitória da Conquista, se não me engano. O rapaz e uma das moças cursam Enfermagem. A outra cursa Medicina. A terceira moça é de Teresópolis, Região Serrana do Rio e cursa Serviço Social. E eu, que sou daqui mesmo, mas que optei por morar em república por questões pessoais, curso Letras. Suas conversas giram sempre em torno de questões profundas, de grande relevância para o mundo acadêmico e consequentemente, para suas futuras profissões.
Tem sido uma experiência única em minha vida. Momentos há em que a convivência chega até mesmo ser terapêutica. Um dia desses, uma das moças, que há algum tempo vem mantendo contato com um amigo que conheceu na rede e que é de Portugal, vira para mim e diz: “Ele vem ao Brasil em junho, pois tem parentes aqui e quer aproveitar para me conhecer. Você sabe quantas horas de viagem são de Portugal até aqui”? Eu respondo: “Não faço a menor ideia”. E ela continua: “Portugal fica perto da Colômbia, né?” Eu respondo: "Você não sabia? A Colômbia passou a integrar o Mercosul, que assinou um acordo econômico com a União Européia, o que provocou um abalo sísmico e resultou numa mudança geográfica: Portugal, agora, fica na América do Sul".
Dias depois, tenho a oportunidade de ampliar meus conhecimentos, com outra demonstração de erudição: “O que é corpo docente?” Eu explico: “São os professores”. Ela: “E corpo discente?” Eu respondo: “São os alunos”. Eu juro que tentei me controlar, mas não me contive: “E você, sabe o que é indecente"? Ela: “Hum?” Eu: “indecente é uma universitária não saber o que significam ‘docente e dicente'"!
Para mim é edificante conviver com pessoas de tamanha sabedoria, tão inclinadas às coisas do espírito.
Alguém conhece, no meio acadêmico, povo mais sábio e com visão de mundo mais ampla, que esse da saúde? Se alguém conhecer, por favor, me informe.
Pretendo organizar um colóquio.

quarta-feira, maio 27, 2009

Mulher de Trinta (A. Jabor)



À medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30:
Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar;
Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...
E geralmente é alguma coisa bem mais interessante;
Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer.
Elas não ficam com quem não confiam;
Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.
Você nunca precisa confessar seus pecados... elas sempre sabem...
Ficam lindas quando usam batom vermelho.
O mesmo não acontece com mulheres mais jovens...
Mulheres mais velhas são diretas e honestas.
Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!!!
Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela, basta agir como homem e o resto deixe que ela faça...
Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos!!!
Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em
bermudões amarelos e sandália raider bancando o bobo para uma garota de 19 anos...
Senhoras, eu peço desculpas!!!
Para todos os homens que dizem: "Porque comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça?", aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das
mulheres são contra o casamento e sabem por quê???
Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter 100g de linguiça!.
Nada mais justo.

quinta-feira, maio 21, 2009

Missões

Existem três coisas na vida para as quais eu nasci e pelas quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para ser mãe. O "amar os outros" é tão amplo que inclui até perdão por mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão essenciais que minha vida é curta para tanto. Amar os outros é a minha única salvação: ninguém estará perdido se der amor e se às vezes receber amor em troca.

E nasci para escrever. A palavra é a substância de que sou feita. Minha comunhão com o mundo. Desde a infância fui seduzida pela magia das palavras e não sei o porquê, foi esta a vocação que segui. Talvez porque escrever seja uma espécie de verborragia: o fluxo da vida se vivendo em nós e através de nós. Aos cinco anos iniciei-me nessa alquimia para que um dia tivesse o poder de dominar as palavras: se me dão papel pautado, escrevo do outro lado. Mas cada vez que vou escrever é como se fosse a primeira.
A possibilidade de renascer toda vez que escrevo é o que eu chamo de viver. E quero renascer sempre.

Brás Cubas não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria; eu, porém, a transmitiria de bom grado. Mas os filhos não vieram, nem acredito que ainda possam vir: para tudo há tempo, e o meu, nesse caso, já passou. Mas se tivessem vindo, creio que eu teria sido boa mãe, porque era um desejo muito forte e sincero. Eles não vieram e eu segui, sem deixar minha descendência no mundo.

Mas sempre me restará amar. Escrever é uma experiência extremamente forte, mas que pode me abandonar: posso sentir um dia que já escrevi tudo o que me cabia e que também devo saber o momento de parar. Escrever não me dá garantia.
Ao passo que amar posso até a hora da morte. Morte? Eu não vivo. Uma alma vive em mim. Por isso possuo a arte de dominar o infinito. Amar não acaba.
Não ter tido meus próprios filhos não quer dizer que não sou mãe: toda mulher já nasce mãe, ainda que os filhos não venham. Além do mais, não ter filhos me dá a chance de ser educadora da humanidade. É como se o mundo estivesse a me chamar: "não tivestes filhos; estou à sua espera". E eu vou ao encontro do que me espera.

Espero em todas as Deusas não viver de coisas passadas. Quero viver o agora.
Acho Salvador uma beleza, não sou tão feia que não possa encontrar meu homem e ora sim, ora não, acredito em parto sem dor...

Contos de Fadas




Adoro crianças, tenho muito traquejo com elas, mas desde que me entendo por gente, nunca me enquadrei, como a maioria das mulheres, nesse perfil de vestido de noiva, casamento, dona de casa. Nada contra, mas acredito que não é a única maneira de uma mulher se sentir realizada. Ainda na infância, percebi que era diferente das meninas da minha idade: sempre gostei de coisas que praticamente nenhuma delas gostava, tinha uma curiosidade enorme em conhecer o novo, o diferente. Não sei se pelo fato de ter sido criada em meio aos mais velhos e sem crianças ao redor, sempre diziam que eu já havia nascido adulta. Para o bem ou para o mal, minha adolescência foi uma fase que teve uma certa dose de rebeldia, muitos questionamentos, dúvidas, enfim, um emaranhado de perguntas sem respostas que me levaram ao amadurecimento precoce. Aos dezesseis anos me tornei mulher. Foi um período um tanto doloroso, tanto física quanto emocional e psicologicamente, mas que teve sua dose de encanto...
Namorados? Tive poucos. Aliás, pouquíssimos, se levar em conta a liquidez dos relacionamentos modernos. Talvez por isso tenha me tornado algo que me situa entre ser homem e mulher: apesar de pertencer ao sexo feminino, não me reconheço como uma integrante de meu gênero, no que diz respeito a forma de pensar, agir e ser da maioria das mulheres. Sou mulher, adoro pertencer à espécie, mas na maior parte do tempo, penso com o senso prático tão peculiar do sexo masculino. Mas não abro mão da docilidade e ternura femininas. Creio que aprendi a dosar bem as duas coisas. Cheguei à balzaquianice assumida e orgulhasamente solteira, e acredito que chegar a essa altura da vida sem ter casado me foi um tanto benéfico: se por um lado, não tive a chance de desfrutar as delícias e desventuras da maternidade, por outro, aprendi que estar só é estar bem comigo mesma, luxuosamente só, imersa em atividades de minha própria escolha, apreciando a própria presença mais que a ausência de outros. A solidão é um ganho pessoal.
Não quero um príncipe. Deus me livre! Primeiro porque sou de carne e osso(mais carne que osso, diga-se de passagem) e príncipes só existem em contos de fadas; depois, já passei da idade das fantasias e apesar de viver com a cabeça nas nuvens, mantenho os pés enraizados no chão; e ainda tem mais uma coisa: dias há em que acordo ogra. E um príncipe, certamente, não suportaria isso. O que quero mesmo é uma parceria para vida. Sem a menor necessidade de contratos, burocracias ou juramentos. Casamento é comunhão de almas. Sentimentos cabem numa folha de papel?