segunda-feira, janeiro 31, 2011

Busca


Trinta e três. Recomeçar aos trinta e três. A mulher que mais admiro no mundo, que traz dentro de si a força e energia de uma leoa, recomeçou aos quarenta e quatro.
Quarenta e quatro. Foi essa a idade que Minha Querida Mãe largou marido, casa e objetos materiais para se renovar. Tudo bem que era outra a motivação, mas começar vida nova do zero, com duas filhas adolescentes não é para qualquer um. Por isso sempre digo que minha heroína é Mãe.
Baiana de Salvador, filha caçula de quatro irmãos(caçula oficialmente, do casamento de Vô e Vó, mas Mãe tem dezoito irmãos), veio para o Rio ao encontro da Mãe, que também havia deixado o marido por conta das 'puladas de cerca'. Fora deixada por Vó aos quatro anos e veio para a Cidade Maravilhosa aos dezoito. Aqui conseguiu bons empregos, namorou... até que conheceu meu genitor. Entre namoro, casamento e noivado, foram vinte e seis anos de convívio. Gerou a mim e uma irmã quatro anos mais nova. Ficou casada por dezenove anos... quando descobriu que, tal qual acontecera à sua Mãe, estava sendo traída por meu digníssimo pai.
Até o abandono da casa, foram quatro anos de tentativa inútil, de salvar um casamento falido e fadado à monotonia e completo desrespeito.

Acho que daí vem minha aversão pelo enlace. Aos trinta e três constato, mais uma vez, que não tenho perfil de mulher casadoira. Mas sinto uma necessidade quase que patológica de ser amada, de viver uma relação de companheirismo e cumplicidade mútuas. Meu corpo sem filhos vai tomando o contorno dos anos, ao mesmo tempo em que reclama seus direitos de corpo de mulher. Sempre me pergunto até quando durará essa tortura, ou mesmo se um dia ela terá fim.
Por vezes sinto um imenso pesar por ser tão intensa e verdadeira, por simplesmente não aceitar absolutamente nada que não seja de igual forma. Gostaria de ser capaz de manter relações frívolas, fazer figuração, encarnar personagens. Mas minha índole é transparente até a medula.
Me entedio facilmente e pessoas desinteressantes e apáticas não dão conta da minha fome, nem da minha sede. Quisera eu ser córrego. Mas nasci Oceano.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Metamorfoses



Passei boa parte da vida fazendo planos para amanhã, para depois, para o futuro. Levei três anos para descobrir que havia escolhido o curso errado na faculdade. Durante esse tempo adiei um sonho que venho cultivando há algum tempo: morar em Salvador. Tinha medo não sei de quê, exatamente, mas quando pensava nisso, a insegurança era bem maior que a vontade. Mas se existe algo que venho aprendendo é que tudo ao nosso redor é inconstante, mutável e temporário. E com essa lição, também estou aprendendo que posso mudar - conceitos, opiniões e atitudes. Tenho me esforçado bastante na busca pelo autoconhecimento e na prática da autoaceitação. Me permito enganar, errar e corrigir meus erros. Justamente por isso minhas escolhas são conscientes: detesto sentir culpa. Por isso aboli essa palavra do meu vocabulário.
O grande barato de toda descoberta, no entanto, é perceber que deixamos de tomar certas atitudes pelo medo de errar, mas esquecemos que também podemos acertar. E assim abrimos mão de viver novas experiências,conhecer pessoas, lugares e possibilidades...
Já faz um tempo que venho seguindo os impulsos que brotam do fundo do coração, e por isso, no fim do ano passado, decidi, depois de muito sofrer, que a melhor maneira de deixar de sofrer seria abandonar o curso que me fazia sofrer. Compreendi que meu curso era fonte de tristeza e frustração. E a partir disso, tomei a decisão.
E depois que tomei a decisão, uma força poderosa emergiu, me impelindo a buscar mudanças em todos os setores da minha vida. Não tenho mais medo de errar, de fracassar. Só tenho medo é de não tentar, de permitir que o medo me paralise. Escolho atravessar pontes, desbravar fronteiras, construir caminhos. Escolho me vencer a cada dia, superar meu ego sedento por acomodação.
Se pretendo dar vida à minha vida, preciso começar provocando mudanças e elas só vêm quando saímos da nossa zona de conforto. E é isso que começa hoje.
Vou começar mudando de cidade, endereço e trabalho.
Hoje selo um pacto com meu eu mais profundo:SER FELIZ OU SER FELIZ!
Por isso também escolhi abandonar a roupa velha, que como no dizer do poeta, já assumiu a forma do meu corpo...

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Deus Lhe Pague



Amo essa música interpretada pelo Falcão, do Rappa, mas só um dia desses descobri que é de autoria de Chico Buarque. Como adoro os dois artistas, vai aqui meu tributo:

"Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir


Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa, jornal e gibi


Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
pelo grito demente que nos ajuda a fugir


Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelos vermes-bicheiras a nos beijar e cobrir
pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
vai nos redimir,
redimir redimir
Deus lhe pague"...

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Roteiro



A necessidade de auto-expressão, de subverter a ordem das coisas, de reinaugurar a forma de sentir e absorver a vida;
A vontade de ceder ao impulso da Criação; a obsessão por gerar valores, desconstruir paradigmas, erguer novos pilares...
A sede de auto-expressão tornou-se questão de sobrevivência: tudo que é considerado 'normal' pela mente coletiva tem me agredido profundamente. Boa parte da humanidade fez um pacto com a mediocridade e crê que todos, sem excessão, fizeram.
Eu sou herege: abomino crenças sem fundamento e conceitos pré-estabelecidos.
É urgente a necessidade de auto-expansão. Manter a Mente desperta e vigilante é a Meta.
Já que eu não caibo mais em mim, me resta escrever meu próprio roteiro...

"Tentei ser crente
mas meu Cristo é diferente
a sombra Dele é sem cruz
no meio daquela Luz".

(O Rappa)

terça-feira, janeiro 11, 2011

Fecundação




Quanto tempo mais levarei para sentir o fluxo de sangue ser interrompido?
Quantos séculos se seguirão, até que este coração seja impetuosamente invadido?
Quando poderei conhecer tua face, tua voz, sentir tua mão a afagar meu rosto?
Por mais quanto tempo terei de esperar pela ventura do Amor maduro?
Quantas noites mais terei de enfrentar o vazio da cama, a companhia da solidão?
Quero Amor que me embale. Que me proteja. Que me faça sentir mulher.
Cansei de ser mãe, amiga, protetora...
Quero Amor que desperte a mulher adormecida aqui dentro.
Como a flor à espera do colibri, anseio por Amor fecundo, que finque raízes no solo do meu ser...

domingo, janeiro 02, 2011

Receita de Ano Novo




Embora eu já tenha publicado esse poema aqui no blog, não resisti à sedução de sua atemporalidade e resolvi fazer um remake:


"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre".

(Carlos Drummond de Andrade)